domingo, 9 de outubro de 2016

Santo Domingo



Quando a casa é um lar, nosso lugar no mundo, lugar onde repousamos, refletimos e nos revigoramos. Lugar onde se guarda as coisas valiosas, os livros e fotografias, onde nos cercamos de pequenas lembranças, onde cultivamos as flores.  Esse é o lugar para se estar em paz qualquer dia, inclusive nos finais de semana, por que não?
Há uma fase da vida em que a ânsia de viver nos empurra para fora, para os outros, para uma intensidade que tem significado de alegria. E aqueles que perseguem tenazmente a alegria, esticam essa fase ao longo de toda a vida. Há a fase em que nos sentimos bem recolhidos, nos resguardando do que nos esgota, nos protegendo um pouco da loucura, a alheia.
Sim, porque a nossa própria, essa há de conviver muito bem e intimamente conosco, há de se mirá-la no espelho com coragem e aceitação, com cumplicidade, ela fala da nossa essência melhor que qualquer outra coisa. E então vamos resignificando a alegria, descobrindo afinal que ela tem um íntimo parentesco com a paz, nos livrando de conceitos, impostos, emprestados, generosamente ofertados, mas que nunca nos pertenceram. Inclusive de que é preciso viver intensamente os finais de semana, em efusiva vibração, uma maneira de revanche contra tudo que nos é roubado na eterna exploração dos dias, chamados "úteis"... para quem? (é sempre bom que se pergunte).
Mas penso que é mesmo preciso viver intensamente, cada minuto, ora para fora, ora para dentro; já que é tudo uma questão de tempo, uma questão de vida.  E o santo domingo há de ser um dia de puro prazer, de aconchego, de lembranças da infância. Seja com família, com amigos, ou consigo mesmo. Seja cultivando as flores e o jardim, experimentando uma receita nova e fácil, ou enchendo a casa com o aroma de bolo saindo do forno. Seja ainda lendo um bom livro, sem mais nada além do dolce far niente.
Afinal trata-se da própria vida, e independente do domingo ser ou não santo, verdade é que todos os dias são sagrados.