Dia do Profissional de Letras
Escolho esse texto da Lygia Bojunga que sempre me emocionou, porque sempre me reconheci nele.
"Pra mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros me deram casa e comida.
Foi assim: eu brincava de construtora,
livro era tijolo; em pé, fazia parede, deitado, fazia degrau de escada;
inclinado, encostava num outro e fazia telhado.
E quando a casinha ficava pronta eu me espremia lá dentro pra brincar de morar em livro.
De casa em casa eu fui descobrindo o mundo
(de tanto olhar pras paredes). Primeiro, olhando desenhos; depois,
decifrando palavras.
Fui crescendo; e derrubei telhados com a cabeça.
Mas fui pegando intimidade com as palavras.
E quanto mais íntimas a gente ficava, menos eu ia me lembrando de
consertar o telhado ou de construir novas casas. Só por causa de uma
razão: o livro agora alimentava a minha imaginação.
Todo dia a minha imaginação comia, comia e comia; e
de barriga assim toda cheia, me levava pra morar no mundo inteiro: iglu,
cabana, palácio, arranha-céu, era só escolher e pronto, o livro me
dava.
Foi assim que, devagarinho, me habituei com
essa troca tão gostosa que – no meu jeito de ver as coisas – é a troca
da própria vida; quanto mais eu buscava no livro, mais ele me dava.
Mas, como a gente tem mania de sempre
querer mais, eu cismei um dia de alargar a troca: comecei a fabricar
tijolo pra – em algum lugar – uma criança juntar com outros, e levantar a
casa onde ela vai morar."
(Mensagem de Lygia Bojunga para o Dia
Internacional do Livro Infantil e Juvenil, traduzida e divulgada nos 64
países membros do IBBY).
Sempre fui grata às letras que me deram, até hoje, casa e comida, me ajudam a escalar os degraus de muitos conhecimentos, a ler o mundo e avida, principalmente nas entrelinhas, na tentativa de buscar saídas e equilíbrio.
Meu mundo sempre foi feito de letras. Amém!
Nenhum comentário :
Postar um comentário